Em 2084 houve uma guerra civil nos Estados Unidos Do Brazil (EUB). Após a guerra, o país foi dividido em duas nações. O norte, o nordeste e o centro-oeste ficaram conhecidos como Brasil; a sede do governo ficava na Bahia e era governada pelos comunistas. Já o sudeste e o sul, ficaram conhecidos como New Brazilia. New Brazilia era controlada pelos supostos democratas integralistas. A sede do governo ficava no sul, mais especificamente, na capital de New Catarina.
Estamos no sul. Acabamos de entrar no Estado de New Catarina. Agora, vamos dar um zoom naquela ilha ali. Está vendo aqueles prédios soberbamente pontiagudos? Pois é, a realidade imitou a ficção científica. Este pedacinho de terra perdido no mar chama-se Ilha de Desterrorama.
A falta de saneamento e os transportes marítimos movidos à energia nuclear contaminaram os mares estagnados de Desterrorama, de norte à sul. O mar dessa ilha não era para peixe. O único peixe que sobrevivia naquelas águas era o baiacu de três olhos. Portanto, a pesca artesanal foi para o brejo. Mas, haviam aqueles que pescavam e comiam o baiacu, justamente porque não tinham dinheiro suficiente para comprar a caríssima comida industrializada da cidade. Era possível ver Remadores da Morte no mar, extraídos de uma tela sombria do Franklin Cascaes. Seus remos eram a Foice; suas mãos, o Martelo.
Desterrorama estava saturada de imagens de violência ideológica monocromática. Polidas propagandas digitais injetadas nos outdoors luminosos; iphonYs, motobipys e computadores possuídores de almas desencarnadas. Pilhas de lixos eletrônicos consumiam o ambiente. Mas, apesar da poluição sonora e visual, a cidade ainda vendia para mídia a imagem de “Ilha da Magia”, repleta de bruxas e cocorocas. Seu forte se limitava à exploração turística, ao comércio chocho e ao desenvolvimento do pólo tecnológico. A produção de androides (intitulados Dromes) em massa eram os principais produtos exportados pela cidade-estado.
E é dentro deste cenário sintético que vamos conhecer algumas crônicas cronicamente impublicáveis.